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Precisamos ir além do óbvio

Quão representativa é a representatividade LGBTQ+ no cinema?

Muito se discute sobre novos filmes com personagens LGBTQ+ e sua representatividade no cinema e sobre os avanços dessa questão. Mas será que estamos mesmo avançando? A diversidade dos filmes, ao meu ver, não é tão diversa assim. Temos alguns filmes incríveis saindo, como Rafiki e Moonlight, mas sinto que as narrativas ainda precisam de expandir mais. Evidentemente, produções que mostram uma história de amor entre pessoas LGBTQ+ ou, então, a superação delas frente a uma sociedade preconceituosa são essenciais. Ainda assim, em algum momento, precisamos passar disso. Não no sentido de superar, mas ir além. Quando foi que tivemos um filme com personagens LGBTQ+ que não focasse, exclusivamente, no relacionamento amoroso? Ou então, que mostrasse esses personagens em sua vida adulta e estável? Por que focamos tanto no processo de “descoberta”? Ele tem sua importância, mas precisamos ir além. Se fossemos seguir o que a maioria dos filmes nos trazem, uma pessoa LGBTQ+ se descobre, entra em um relacionamento, sofre com o preconceito, e depois? Onde entra a parte da autodescoberta — para si, e não para os outros —, da aceitação, da criação de uma comunidade própria, do envelhecimento? Esses nichos seguem pouco explorados pela indústria cinematográfica.

Temos também a questão da abordagem do preconceito. Quando o filme não traz esse lado, como Love Simon, o público se queixa pela narrativa não condizer com a realidade da maioria das pessoas LGBTQ+. Quando traz, como Pariah, o filme é criticado por focar demais na violência. O assunto é delicado, mas é preciso encontrar um meio termo. Claro que o preconceito, infelizmente, ainda faz parte de muitas narrativas LGBTQ+ fora das telas, mas é preciso criar, através dos filmes, uma realidade receptiva para que, um dia, ela possa tornar-se cada vez mais comum. O conteúdo abordado pelos filmes tem impactos reais e pode moldar a sociedade. Isso não significa nunca retratar a violência, até porque não podemos fugir da realidade o tempo todo, mas deixar de retratá-la vez ou outra também tem um importante papel social. 

Claro que não posso fingir que a indústria não avançou – e muito – nos últimos anos. as produções estão crescendo cada vez mais e sinto que estamos seguindo um bom caminho. no entanto, acredito que ainda temos muito o que trilhar para podermos dizer que há representatividade plena das pessoas LGBTQ+ no cinema.

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